Bruno e Dom: testemunhas relatam atuação de 'Colômbia' como líder de esquema de pesca ilegal em audiência
16/10/2025
(Foto: Reprodução) Justiça Federal começa a ouvir 'Colombia' e outros nove réus por organização criminosa
A audiência de instrução e julgamento do processo que investiga uma organização criminosa ligada à pesca ilegal no Vale do Javari, no interior do Amazonas, foi realizada nesta quinta-feira (16), em Tabatinga, no interior do Estado. Como réus estão Rubén Dario da Silva Villar, o “Colômbia”, Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, acusados de envolvimento nas mortes do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, e outras oito pessoas.
Bruno e Dom desapareceram quando faziam uma expedição na Amazônia, no território que engloba os municípios de Guajará e Atalaia do Norte. Eles foram vistos pela última vez em 5 de junho de 2022, quando passavam em uma embarcação pela comunidade de São Rafael. De lá, seguiriam para o munícipio de Atalaia do Norte, mas foram mortos.
A audiência começou por volta das 9h30 (horário local) no fórum da Justiça Federal em Tabatinga.
Na parte da manhã, foram ouvidas as testemunhas de acusação do Ministério Público Federal (MPF). Uma delas, não identificada, relatou ter presenciado reuniões entre pescadores em que o nome de Colômbia era citado como líder de um grupo criminoso responsável por financiar pesca e caça ilegal na Terra Indígena Vale do Javari.
Bruno e Dom: testemunhas relatam atuação de 'Colômbia' como líder de esquema de pesca ilegal em audiência.
Rôney Elias/Rede Amazônica
Um representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) também prestou depoimento e confirmou que os peixes extraídos ilegalmente da região eram vendidos para Colômbia, na cidade de Islândia, no país vizinho.
A última testemunha de acusação a ser ouvida foi uma servidora da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que contou ter sido ameaçada por pescadores em Atalaia do Norte após uma ação de fiscalização que destruiu redes utilizadas pelo grupo criminoso.
No período da tarde, começaram os depoimentos das testemunhas de defesa. Os réus Amarildo da Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas de Oliveira, Eliclei Costa de Oliveira, Janio Freitas de Souza, Otávio da Costa de Oliveira, e Laurimar Lopes Alves, também foram ouvidos.
Nesta sexta-feira (17), devem ser ouvidos Manoel Raimundo Correa, Francisco Lima Correa, Paulo Ribeiro dos Santos, além de Ruben Dario Villar, o "Colômbia".
Segundo a denúncia do MPF, Colômbia liderava uma organização criminosa especializada em pesca e caça ilegal, além do tráfico de munições, com atuação em Benjamin Constant e Atalaia do Norte.
A audiência, no entanto, deve continuar ao longo desta sexta-feira (17).
Quem é 'Colômbia'
"Colômbia" suspeito de mandar matar Bruno e Dom.
Rede Amazônica.
Envolvimento com o tráfico de drogas, pesca ilegal e uso de documentos falsos. O histórico de Rubén Villar veio à tona após os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips. Em 1º de novembro de 2024, ele foi indiciado pela Polícia Federal (PF) como mandante do crime.
Segundo a investigação, Colômbia forneceu cartuchos para a execução do crime, patrocinou financeiramente as atividades da organização criminosa e interveio para coordenar a ocultação dos cadáveres das vítimas. A PF confirmou que os assassinatos ocorreram devido às fiscalizações realizadas por Bruno Pereira na região.
Apesar do apelido Colômbia, o homem é de nacionalidade peruana e foi preso em flagrante por uso de documento falso ao comparecer à sede da PF, em Tabatinga, em 8 de junho de 2022. Ele alegava não ter envolvimento com as mortes do indigenista e do jornalista.
No decorrer das investigações, as autoridades constataram que Colômbia é suspeito de chefiar uma quadrilha de pesca ilegal em áreas da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, e de ter envolvimento com tráfico de drogas. A região fica na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.
Segundo a PF, o traficante pagava despesas de pescadores que atuam ilegalmente em áreas indígenas. Quadrilhas lideradas por ele também escondiam cocaína em carregamentos de pescado, constatou a PF.
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A primeira prisão dele, no entanto, durou pouco mais de 4 meses. Em outubro de 2022, a Justiça Federal do Amazonas concedeu a ele liberdade provisória, em decisão que alegava que a PF "não reuniu um único elemento de ligação dele com as mortes".
Na ocasião, Colômbia foi submetido a medidas cautelares, como o pagamento de uma fiança de R$ 15 mil, uso de tornozeleira eletrônica e proibição de moradia em Manaus.
Em dezembro daquele ano, foi novamente preso por descumprimento das condições impostas pela Justiça e conduzido a um presídio em Manaus. Atualmente, ele está preso em um presídio de segurança máxima.
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O caso
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Getty Images via BBC
Bruno e Dom desapareceram quando faziam uma expedição para uma investigação na Amazônia. Dom escrevia o livro "How to save the Amazon?" (Como salvar a Amazônia?). O objetivo era mostrar como povos indígenas fazem para preservar a floresta e se defender de invasores.
Na viagem de campo, os dois foram vistos pela última vez em 5 de junho de 2022, quando passavam em uma embarcação pela comunidade de São Rafael. De lá, seguiam para Atalaia do Norte.
A viagem de 72 quilômetros deveria durar apenas duas horas, mas eles nunca chegaram ao destino.
Os restos mortais dos dois foram achados em 15 de junho daquele ano. A polícia concluiu que eles foram mortos a tiros, e seus corpos, esquartejados, queimados e enterrados.
Além de Colômbia, também respondem pelo crime Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos" e Jefferson da Silva Lima, conhecido como "Pelado da Dinha".
Amarildo foi preso em flagrante em 8 de junho de 2022 por ter feito ameaças a indígenas que participavam das buscas pelos corpos e em posse de munição de uso restrito e permitido. No dia seguinte a prisão, a polícia encontrou vestígios de sangue na lancha usada por ele.
Oseney foi preso em 14 de junho do mesmo ano. Ele é irmão de Amarildo e teria o ajudado a fazer uma emboscada e cometer o crime contra as vítimas.
Jefferson foi preso no dia 18 de junho de 2022. A investigação indicou que ele teve participação direta no caso, desde a emboscada até a ocultação dos corpos.
Além deles, também foram denunciados pelo MPF os pescadores Eliclei Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas Oliveira, Otávio da Costa de Oliveira e Edivaldo da Costa Oliveira por usarem um menor de idade para ajudar a ocultar os cadáveres de Bruno Pereira e Dom Phillips. Eles também foram denunciados pelo delito de ocultação de cadáveres.
Amarildo e Jefferson serão julgados por duplo homicídio qualificado e pela ocultação dos cadáveres das vítimas. Os dois continuam presos. Quanto a Oseney, ele aguarda a finalização do julgamento do caso em prisão domiciliar, com monitoração eletrônica.