Café robusta de Rondônia captura mais carbono do que emite, diz estudo
08/10/2025
(Foto: Reprodução) Café Robusta Amazônico
Armando Júnior
O café robusta produzido na região das "Matas de Rondônia" sequestra 2,3 vezes mais carbono da atmosfera do que emite durante o cultivo. A conclusão é de um estudo realizado pela Embrapa em 2024 e divulgado neste ano.
🔎 As Matas de Rondônia são uma área de Indicação Geográfica que reúne 15 municípios produtores de café, como Cacoal, São Miguel do Guaporé e Seringueiras. A região concentra mais da metade da produção de café do estado.
📱Baixe o app do g1 para ver notícias de RO em tempo real e de graça
A pesquisa analisou 250 propriedades que cultivam o café robusta em Rondônia. Foi descoberto que cada hectare emite, em média, 2,9 mil quilos de gás carbônico (CO₂) por ano. Por outro lado, essas mesmas lavouras conseguem "puxar" da atmosfera cerca de 6,8 mil quilos de CO₂ por hectare, guardando esse carbono dentro das plantas. Ou seja, elas retiram mais do que emitem.
No fim das contas, segundo a pesquisa, cada hectare de café robusta deixa um saldo positivo de 3,8 mil quilos de carbono por ano.
Segundo o pesquisador da Embrapa, Enrique Anastácio Alves, práticas sustentáveis trazem benefícios não só para o meio ambiente, mas também para a qualidade da lavoura.
“Cobertura verde, manejo adequado e sistemas arborizados ajudam a criar um microclima positivo, reduzem o estresse das plantas, conservam água, aumentam a matéria orgânica e favorecem a ciclagem de nutrientes", explica.
Leia também:
Jovem é chamada de 'pobre' e viraliza com vídeo mostrando 'a verdadeira riqueza' de morar na roça em RO
Servidor é suspeito de desviar e vender materiais da secretaria municipal de saúde em Porto Velho
Três homens são presos suspeitos de incendiar provedores de internet em RO
Além disso, o pesquisador ressalta que, embora o carbono capturado retorne à atmosfera quando a planta morre ou é cortada, as plantas envelhecidas podem ser utilizadas como lenha na torra do café. Isso substitui combustíveis fósseis e contribui para manter um balanço positivo de carbono.
O biólogo Marcelo Ferronato, presidente da ONG Ecoporé, destaca que, mesmo sequestrando menos carbono do que uma floresta nativa madura, o café robusta amazônico ainda representa um avanço importante para a sustentabilidade agrícola.
“Um hectare de café sequestra cerca de 6,8 toneladas de CO₂ por ano, enquanto uma floresta madura pode absorver mais de 10 toneladas. Mesmo assim, o café já compensa as emissões de três carros de passeio rodando durante um ano e aproxima a produção agrícola de um modelo mais sustentável”, afirma
Mas como é realizado o cálculo do sequestro de Carbono?
Uma calculadora desenvolvida a partir de pesquisas realizadas nas lavouras de café da região das Matas de Rondônia permite medir o balanço de carbono na produção do café robusta amazônico.
Enrique Anastasio, pesquisador da Embrapa, explica que o aplicativo foi criado com base em análises feitas em 150 plantas, cujas raízes, troncos e folhas foram avaliados quanto ao conteúdo de carbono. A partir desses dados, foi estabelecida a média de sequestro de carbono das lavouras da região.
Além disso, os pesquisadores mapearam cada etapa da produção do café — como uso de adubos, mecanização, mão de obra e secagem — para determinar as emissões de carbono. Com esses parâmetros, a calculadora foi estruturada e aplicada a mais de 300 cafeicultores.
Na prática, o produtor responde, no aplicativo, a uma série de perguntas sobre seu sistema produtivo. A calculadora consulta um banco de dados com os padrões de emissão de cada atividade e estima, por hectare/ano, o quanto é emitido de carbono. Esse valor é então comparado ao potencial de sequestro já definido para o café da região, permitindo calcular o saldo final.
A ferramenta faz parte do Projeto CarbCafé e será apresentada na COP 30, compondo a vitrine de soluções verdes da conferência.
Rondônia lidera café sustentável
Rondônia é responsável por 87% da produção de café da Amazônia e ocupa o segundo lugar no ranking nacional de cultivo de robusta, atrás apenas do Espírito Santo. Em 2021, o café rondoniense recebeu o selo de Indicação Geográfica, valorizando a produção local, feita majoritariamente por agricultores familiares, que representam 95% dos produtores.
Com produtividade média de 68,5 sacas por hectare, o café robusta da Amazônia tem potencial para se tornar ainda mais sustentável. O uso de adubos orgânicos e sistemas agroflorestais pode aumentar a captura de carbono e reduzir a poluição.
O estudo também alerta para os desafios da cafeicultura diante das mudanças climáticas, como secas intensas e aumento de temperatura. Entre as soluções estão o uso de clones mais resistentes, economia de água e diversificação das plantações.
Veja também - Rondônia é o segundo maior produtor de café robusta do Brasil:
Parte 1: Rondônia é o segundo maior produtor de café robusta do Brasil